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Thirteen

À pessoa que habita o treze, Se há coisa que eu sei é que esse quarto nunca te pertencerá. Sei-o porque foi o único sítio ao qual uma vez chamei de casa e acho que o continua a ser. O treze não é só um quarto. Foi aí que vivi uma vida. O colchão onde dormes não é só uma cama; partilhei-o com os meus amigos e os homens que me viriam a quebrar o coração. Nele fiz amor, mas também fiz amizade. Já manchei essa almofada de lágrimas e de risos. Ambos fizeram me crescer. As noites passadas a perder-me em corpos suados e as madrugadas passadas a viver momentos de felicidade estarão para sempre vivos na minha memória. Sabes a marca de derretido na secretária? Foi a Maita que pousou uma panela a escaldar porque fomos confinados a comer no quarto pois ninguém da residência gostava de nós. O chão que calcas, e nem sabes que é de um cinzento frio, já foi cama de muitos. O lavatório passava a vida manchado de pasta dos dentes ou grego de uma quinta feira louca. Nunca saberás as vezes que me esc

i almost do

Quero uma casa à beira-mar Com vista para a neve no alto da Serra. Ao fim do dia quero sentir o sol a queimar E ao amanhecer a neblina a aparecer. Quero uma casa no alto da serra, Com vista para o oceano. Desejo sentir a neve no inverno, Caneca de café a aquecer a mão. Quero uma casa no meio do campo, Estrelas à noite a fazer constelação, O galo para acordar, Mosquitos para adormecer. Quero uma casa no meio da cidade, Ver os desconhecidos a deambular, Vê-los à chuva, vê-los a correr E vê-los a perder o ar. Um caderno onde escrever, Sobre as artimanhas da solidão, Sobre o verde do mar, O azul do céu e o branco da neve. Um diário onde chorar, Sobre o ombro de alguém, Um tu que não me quebre com a facilidade de boa intenção. Quero fazer um puzzle do planetário, E peça A peça, E mais peça encontrar. Não tu, não eles, Só eu para me amar.

begging

Tenho cortado rosas e com elas os dedos, pela dor de sentir algo. No entanto, o sangue corre-me pelas mãos, pintando sobre as linhas que em que antes existíamos. Ao mesmo tempo, sinto um peso sobre o peito. Um peso tão vivo e sufocante, ora quente ou frio, mas sempre pesando sobre os meus pulmões. Tudo o que me é meu implora-me por ti. Todas as minhas lágrimas se reprimem por nós. Mas o peso faz-se sentir quando penso no que já fomos. E no que poderíamos ser. Não me interpretes mal; amo-te. Mas não confio em ti a minha vida como já o fiz outrora. Se no inicio colhia granjas, hoje pensar em ti faz-me colher rosas. E por isso pico-me nos dedos, tal bela adormecida, mas em vez de cair num sono profundo e inesperado, sufoco-me na ansiedade por ansiar saber o que se passa e saber quem sou. No entanto, continuo a desesperar pelo sabor a café num dia de tempestade e choro por não ter o sol e a lua sobre mim em simultâneo.

garden

Sento-me num canto que seja só meu e canto para mim frases soltas de poemas que me cantam aos ouvidos. Há frases que se prendem nos meus ouvidos e palavras que se soltam dos meus lábios. Há coisas que deixei de fazer e sonhos que deixei de sonhar. Mas há sempre palavras prontas a serem escritas e pensamentos que não me fogem. Mas eu fugi. Continuo sentado num canto só meu e ainda canto poemas que outrem escreveram. No entanto, não me tento encontrar no que alguém escreveu, nem na ideia de que a minha vida está escrita nas estrelas, nos signos ou enraivecida por Moros. Noutra dimensão, o labrador da minha irmã entende as minhas lágrimas e responde-me com palavras sábias; os pássaros cantam e não piam e os peixes respiram de cabeça sobre a superfície cristalina do meu lago. Os meus dedos cheiram a café e os meus olhos não procuram algo. Mas nesta sim. E as palavras fogem-me, não preparadas para atinar com uma realidade que me chega a ser normal mas que eu sinto surreal.

genesis

Imagem
Querido Granja, Hoje a minha irmã chegou a casa a queixar-se do vento da nossa cidade. Percebo-a como se tivesse sido ontem a minha primeira vez que visitei a nossa Veneza e senti o vento a despentear-me o cabelo e arranhar a garganta. Mas hoje não consegui odiar o tempo. Hoje não odeio nada, nem ninguém.  Hoje escrevo-te de maneira diferente da que te escreveria há um mês atrás. Acordar-te-ia com um "bom dia meu amor, parabéns a nós", e seguiria o resto do dia a lembrar-me de como o vento de que tanto se queixa a minha irmã, há um ano e cinco meses atrás abençoava-nos e nos embalava na sua cantiga de amor.  Hoje não é assim. Hoje uso o cabelo despenteado por preguiça e a garganta arranha-me pois evito chorar. É estranho pensar que tudo acabou assim, "do nada", dos macacos da tua cabeça contra os quais não consegues lutar. Mas atenção, hoje não te culpo. Talvez, um dia, possa vi-lo a fazer da boca para fora. Mas hoje sei que a culpa não é tua, nem minha, ne

1.

Sonhos. Tenho imensos sempre que deito a mente na almofada. Tenho-os acordado ou a dormir, sonhados ou por sonhar. Mas temo que não sejam o suficiente para a alma que antes o sonhava tão apaixonadamente.  Outrora, sonhava pelo amor; pelo beijo pela manhã, a discussão pela tarde, as palavras pela noite e o reconforto durante o dia. Se o sonhei, encontrei-o. E vivo-o. E há quem diga que isso é suficiente para se viver. Já sonhei amizade. Não aquela pela qual eu tinha de suar, mas por aquela em que existia um amor mútuo, em proporções mútuas e em condições de alegria. Se o sonhei, encontrei-o. E vivo-o. E quando olho para os amigos que juntei, suspiro de alívio. São estranhos; gays e heteros, de todos os feitios, tamanhos e géneros. E há quem diga que isso é suficiente para se viver.  No entanto, enquanto alguns sonhei, outros esmoreci. Perdi-os no vácuo da preguiça, da intangibilidade ou do esquecimento. E se me tento lembrar deles, mais deles me esqueço. Sinto que são ouro que s